12.7.13

Da necessidade da autocrítica

texto por Thiago Consiglio

Os tempos de indignação que foram impulsionados pelo aumento das tarifas dos ônibus culminaram no momento atual dos protestos que acontecem por todo o Brasil. Em Sorocaba especificamente, percebe-se muita ligação com os acontecimentos nacionais mas ao mesmo tempo temos características que são únicas da cidade.

Quando a tarifa dos ônibus aumentou, no dia 5 de junho de 2013, houve a primeira movimentação social que protestava contra esse decreto. Desde então, as novas manifestações foram tomando um novo corpo que levam em conta a criação da frente ampla constituída de partidários, movimentos sociais, estudantis e independentes, sob a bandeira da mobilidade urbana no ContraCatraca.

O que se observou desde então foi um caminho que basicamente seguiu os passos de estruturação desta frente, com constituição de comissões internas, aglutinação de novos grupos e até um pequeno diálogo com a comunidade através da 1ª Assembleia Popular que o ContraCatraca convocou no dia 27 de junho.

A constituição própria da frente, sempre através do debate, abriu o espaço para as opiniões diversificadas das várias tendências internas, levando em conta o sentido da diferenciação dos ideais e a unidade na ação. A partir disso, foram chamados vários atos que manifestavam reivindicações para a mobilidade urbana de Sorocaba. Até o momento deste texto realizaram-se 5 manifestações além do dia 11 de julho composta dentro do Dia Nacional de Lutas.

O que percebe-se é um caminho muito lógico de ação que consolidou-se de debate interno, planejamento e ação – através das manifestações. O que talvez tenha acontecido então foi um desgaste deste modelo de autogestão considerando que Sorocaba tem um histórico limitado das movimentações sociais em termos massivos.

E então surge a questão: precisamos continuar a luta, mas será que chegamos no limite?

Dentro do modelo atual, se uniram tanto militantes experientes e novatos, quanto movimentos sociais e estudantis, o que significa, uma troca de vivência aconteceu ao ponto de se incorporar na ação e no debate. Foi criado um modus operandi que não havia acontecido até então. Todos que entraram nestas movimentações, neste ponto atual, já foram acrescentados de algo mais. Seja na composição de uma assembleia, no respeito da fala de um grupo diferente, na organização de uma manifestação, etc.

Por isso retomo o ideal da autocrítica. Penso que a dialética tão aplicada da fala dos companheiros dos diversos movimentos que se identificam de esquerda não está sendo aplicada dentro deste modelo de práxis. Dentro deste suposto “limite”, muito foi construído, mas precisamos voltar ao próprio método da negação da negação – no sentido materialista dialético – para que essa movimentação não se desgaste.

Muito pode se pensar para fazer novos modelos de assembleias, sejam internas ou populares, ou no caso principal, as manifestações em si. Entendo que a movimentação não deve sair das ruas, mas a autocrítica sugere aquela pulga atrás da orelha. Será que não criamos um status quo e estamos reproduzindo aquilo que nos 'foi dado', dentro da própria construção do movimento?

Novos modelos como atos que são culturais, que envolvem mesas de debate, sugerem uma construção coletiva, no sentido da formação, buscando disseminação das reivindicações para os demais integrantes da comunidade.

Outro modelo que tanto aposta no enfrentamento como a troca de experiência, é a ocupação. Neste aspecto unem-se as duas questões, da formação através da vivência e o enfrentamento que é a própria ocupação. Aqui tende-se a criar a composição inicial centralizada na discussão em grupos consolidados e pessoas que buscam interagir com o debate, porque depende de força e de resistência.

Através deste exercício, proponho como questão: para que o movimento não se desgaste, precisamos retomar a autocrítica. É um sentido constante de revisão dos ideais e dos atos que neste momento parece que estão seguindo um caminho constante. A estagnação vai levar ao enfraquecimento de uma situação que por si só é modificadora, internamente se adaptando aos novos acontecimentos, e que também busca a transformação da realidade.

O blog
O Mescla Mutual não se diferencia deste contexto. E foi assim que os integrantes dele (eu e o Yuri Werner), nos reunimos com outras demais pessoas dos diversos movimentos que estão acontecendo para repensar a própria estrutura do site, que propõe-se a realizar um debate no espaço virtual.

Com isso, vamos redirecionar nossas atividades para o novo espaço que virá*. E vamos propor que essa autocrítica permaneça viva e em paralelo aos acontecimentos que expus acima. Sem isso não avançamos e chegou o momento em que as condições materiais foram impostas e estamos aproveitando para fazer da autocrítica o motor da nossa práxis.

*[Assim que estiver criado o novo espaço, atualizo com o link aqui.]

Nenhum comentário: