A decisão por caminhar por esse específico caminho e não este nem aquele, que poderiam acabar no mesmo destino, carrega uma 'tristeza' pela qual temos que passar. Talvez essa tristeza seja minimamente percebida porque temos que confrontá-la cotidianamente. Mas acontece que a percebemos de fato em alguns pontos cruciais em que a escolha envolve uma renúncia e isto causa dor.
(...continuação)
A renúncia em si carrega tristeza porque traz a morte de toda uma potencialidade existente no momento da escolha. Somos levados a enxergar como renúncias suportáveis e essenciais à existência e não podemos voltar atrás para alterá-las. Aí reside a insatisfação, a tristeza, a angústia no afirmar ou negar de uma vida.
Viver uma vida plena e consciente mostra-se extremamente complicada a partir deste sentido. Ao mesmo tempo em que um sabe que é agente ativo na História, sabe que ele também é "causador" dos males contemporâneos. Carregamos o "peso do mundo nas costas" como apontava Jean-Paul Sartre, justamente pela consciência efetiva de nossas ações. Isso gera empatia e ao nos reconhecer com o outro, percebemos que precisamos ajudar e também um sentimento ativo à existência.
Com isso damos importância às pequenas coisas da mesma forma que as grandes. Precisamos enxergar os detalhes da vida e minuciosamente entendê-los para então lidar com esse mal-estar. E então a partir daí, aquele que entende, pode afirmar sua existência no sentido de procurar enxergar todas as ramificações que suas escolhas são capazes de gerar.
As escolhas também são pesadas e podem ser vistas sob a ideia do Eterno Retorno. Com Friedrich Nietzsche, ele aponta que se nossa vida se repetiria para sempre através desse Eterno Retorno, isso tornaria cada movimento e cada decisão, pesada. Seria quase como se houvesse um tribunal que voltaria repetidamente à você e questionaria suas afirmações. O que você faz agora teria que reviver milhares de vezes, obrigando a não só pensar antes de fazer a decisão, mas que depois de feita, ela deve ser afirmada, abraçada em toda a sua magnitude.
Encarada desta forma, voltamos a ideia inicial e entendemos que a possibilidade de ramificação de cada escolha pode gerar muitas alternativas, e ao afirmar uma, consequentemente rejeita-se todas as demais. A impossibilidade das ramificações gera uma tristeza que no fim das contas deve ser abraçada.
Assim, cada movimento seu é refletido no próximo e assim em diante; e os julgamentos não ficam separados para os "tribunais da História" mas em todo o lugar. É uma questão da própria base da Filosofia e do questionamento em si, que precisamos retomar a ideia de pensantes ativos como Sócrates buscava em suas abordagens públicas e questionadoras.
3 comentários:
texto ótimo e ilustração também!! gostei muito!!
Seu texto me fez pensar em algo que eu nunca tinha pensado. Acho legal parar pra pensar em coisas assim, principalmente quando não é o meu próprio ponto de vista. A diferença é bela.
E a ilustração da Yumi me fez pensar no por quê de ela não ter um site com os desenhos dela, porque ficou muito daora!
Curti.
O texto aponta observações simples e ao mesmo tempo procura destacar considerações muito felizes, complementando a reflexão. Parabéns pela simplicidade aprofundada, que casou muito bem com a ilustração.
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