2.6.11

O definhamento do desejo

texto por Thiago Consiglio
Comumente a ideia que vem quando se fala em desejo é ligada ao consumismo capitalista, tão evocado como um dos males desse sistema. Nessa crítica, um dos apontamentos é o de que o produto – objeto do desejo capitalista – quase ganha vida própria e de que o consumo deste está ligado com a satisfação plena de felicidade. 

Mas antes deste desejo existe uma “vontade” anterior que deve ser investigada, não sendo necessariamente capitalista, nem influenciada pelos meios de comunicação de massa ou os aparelhos ideológicos da sociedade. A vontade neste caso pode ser por exemplo, tanto em praticar um esporte, em comer algo diferente, sobre algum produto comercial ou até em desejar alguém próximo. 
(...continuação)

A imagem que é clara na mente das pessoas é o desejo no consumismo mas a vontade como desejo não é algo que se separa para analisar. A vontade, que chamo de platônica, não significa que é inalcançável mas é de certa forma “autossuficiente”. Dando o exemplo da vontade ser de outra pessoa, é denominado também de “amor platônico”. 

Mas este não significa que é um amor impossível e inatingível, mas é um amor por si só. A pessoa pode estar longe do amado mas pode estar perto, porque na ideia de amor platônico o verdadeiro objeto da vontade é o próprio amor, ama-se o sentimento.
 
Por isso que de certa forma o conceito é ligado com a distância física entre os amantes (sendo que não é algo necessário), nesse sentido, não se procura consumir o objeto que se tem vontade ou deseja, já que é o próprio motor desse amor. E de certa forma é uma força, uma potência que é armazenada até o momento de se tornar concreta e começar a ser consumida.
 
Isso também significa que o metafísico é mais durável e mais elevado do que o físico. Seria a ideia de que, o que é da mente não morre e o que é físico sim? Talvez. Mas é para se pensar que o físico está muito mais próximo dos defeitos da existência, das imperfeições cotidianas, enquanto que o metafísico por mais complicado que seja discuti-lo ao mesmo tempo envolve-se de uma “penumbra” e se aproxima do ideal.

A partir daí encontramos uma associação que é premissa na maioria dos argumentos, a de que a felicidade está no fim deste caminho de desejos e vontades. As vezes ela pode não fazer nem parte da equação inicial.
 
Para Arthur Schopenhauer o que nos faz buscar o Outro é mais um fator de cunho biológico e que é dirigido por algo que é essência das coisas. Para ele também, em geral, nós sempre buscamos e queremos alguma coisa. 

Ao realizar o desejo, satisfazemo-nos e logo já queremos outra coisa, a não ser se atingirmos o ápice e ai o que permanece é o tédio. Portanto, diz Schopenhauer, nossa existência, em uma analogia com um pêndulo, oscila entre o tédio e o sofrimento. 

A proposta que Schopenhauer faz é a procura do asceticismo que é se manter afastado dessas vontades físicas, que como um monge enclausurado, procura-se atingir elevadas formas de satisfação que não são possíveis nesse consumo frenético dos desejos.

Então deve-se encarar as duas formas e um deve escolher entre abraçar todos os problemas do consumo definhador e físico, ou encarar as satisfações elevadas que só serão encontradas de forma árdua e penosa.

Em ambas as atitudes, há de se entender que causam uma certa dor e há a impossibilidade da total realização. Desta forma há uma contradição em que o sujeito que ama tem uma energia para com o sujeito amado e ele pode, tomar a atitude de evitá-la e assim chegar a esvaziar-se dela, ou a partir do momento que é concretizada, começar a definhá-la. Mas é um definhamento, trágico e belo, afinal quem poderia supor que o amor só traz problemas?

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