8.7.11

O pássaro enforcado dentro da gaiola


A questão que falarei, é fruto de uma experiência pessoal – mas que outras pessoas também relataram – e, portanto não deve ser vista como uma abordagem geral. A tal questão é o pedantismo na universidade, que aparece principalmente em “calouros” fruto provável de uma mentalidade de Ensino Médio burguês, que assola e rompe com todo o pensamento da livre produção – não tecnocrata - e solidariedade do conhecimento. Para facilitar a discussão, vou expor o que entendo sobre o significado do conceito “pedante”.

Pedantismo seria o ato de demonstrar, de maneira arrogante e pretenciosa, o conhecimento apoderado e utilizá-lo como um escarro na face dos que por diversos motivos não obtém tal erudição. É muito claro que tal visão corrobora com o sistema no qual vivemos, impondo uma individualização, comercialização e segregação.

Acredite, este pensamento é levado às últimas consequências quando falam sobre a existência da “genialidade” em específicos seres “famosos” por seus trabalhos esquecendo toda história da produção e do trabalho de todos os seres – e pra tratar de um caso peculiar que um querido companheiro relatou, há quem se ache “uma das pessoas mais geniais que já conheceu”.

Seguindo com o pensamento, preciso deixar claro: NÃO SE CONSTRÓI CONHECIMENTO SOZINHO, VISTO QUE TODOS SOMOS SERES HISTÓRICOS E UTILIZAMOS DE CONCEITOS E PENSAMENTOS DE ANTEPASSADOS E CONTEMPORÂNEOS, PORTANTO APODERAR-SE DE CONHECIMENTO É A MÁXIMA EXPRESSÃO DE UM LEGÍTIMO ALIENADO.

Não há outra maneira de dizer isto. Saber Marx, Levi-Strauss, Spinoza, Nietzsche ou Adorno só tem significado quando você aplica tal conhecimento para algum fim. Portanto, é este fim que vai identificar a conduta do ser e evidenciar se existe um EGOísmo nesta leitura.

O conhecimento, expresso na forma de leitura/escrita, não deve se transformar em um meio de produção, assim como a música, as artes plásticas, a dança, o cinema também não – muitos colegas esforçam-se diariamente para que não seja e isto me enche o coração.

Escrevo este aforisma por acreditar piamente de que não é esta a validade de estudar, e me alegra ainda mais, saber que muitos outros de minha idade, enxergam o mesmo problema e recusam-se a perpetuar o tecno-conhecimento. Existe esperança. Romper com este pensamento é urgente, para estabelecermos uma educação/aprendizado igualitária, de qualidade e não autoritária.

Bem, do que me vale escrever criticando e não apresentar ferramentas – mas não soluções - que creio que sejam viáveis há alguma mudança:

  1. Troque livros, repasse o material lido e adquira livros não lidos. Conhecimento se constrói.
  2. Discuta com todos sobre tudo. Atinja sua sala de aula, seus amigos e familiares com pensamentos. A reflexão é uma ferramenta fundamental.
  3. Procure com seus amigos algum livro que trate de algo que você tenha pensado ultimamente. O amadurecimento do pensamento é essencial para novas e profundas reflexões.

Por fim, escreva, relacione-se. Precisamos de você.

Indicações:
Aqui indicarei alguns livros – e não somente livros – que podem contribuir para o aprofundamento de algumas questões aqui tratadas. A maioria dos livros citados eu possuo, ou algum companheiro possui, então se não encontrar ou estiver sem dinheiro, procure-me que eu empresto ou arrumo de algum jeito.

  • Karl Marx, Salário, Preço e Lucro. Acho fundamental para entender o sistema de trabalho vigente.
  • Maurício Tragtenberg, Sobre educação, política e sindicalismo. Discute muito a universidade pública.
  • Theodor Adorno, Indústria Cultural e Sociedade. Essencial para entender cultura nos Séculos XX e XXI.
  • Música “Can’t Change Everything” da banda estadunidense 1905. Procure a letra, vale a pena.

3 comentários:

Pedro disse...

copyleft

Samantha disse...

Muito bem pontuado.
E essa música foi um achado, curti muito a letra dela.
:)

Thiago Consiglio disse...

Muito bacana o texto.
Acho inspirador e que leva à uma discussão interessante.

Acredito que o pedantismo seja algo a se questionar e que muitas pessoas talvez não saibam que reproduzem. Talvez também seja uma forma de auto-defesa.

Vale ressaltar a sua sugestão de retomar conceitos que as vezes acho que estão esquecidas no tempo. Solidariedade está entre elas, e isso aliado ao conhecimento, e à produção pessoal é algo que por se construir, vale o esforço.